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quarta-feira, 2 de maio de 2012

A mente inconsciente: profundezas ocultas

Peça a alguém que cite um psicólogo famoso e provavelmente a resposta será “Sigmund Freud”, o acadêmico austríaco barbado que surgiu com a ideia da psicanálise. As sua ideias sobre o inconsciente – uma espécie de porão pouco iluminado da mente que é inacessível ao pensamento racional, mas que ainda assim influencia a conduta das pessoas – já se tornaram domínio público.
Ainda que tenha permanecido popular em reuniões sociais, a ideia de inconsciente já não convencia tanto assim os psicólogos do século XX, graças ao surgimento de abordagens mais científicas da psicologia. Estas se concentravam somente no estudo do comportamento e se abstinham de teorizar a respeito dos mecanismos internos da mente.
Em seu livro mais recente, “Subliminal” (Subliminar), Leonard Mlodinow, um físico teórico, revela como a ideia do inconsciente voltou a ser respeitável nos últimos 20 anos. Este desenvolvimento foi auxiliado por evidências experimentais rigorosas dos efeitos do subconsciente e, especialmente, por tecnologias que permitem escanear o cérebro em tempo real para que pesquisadores possam examinar o que está acontecendo dentro da cabeça de suas cobaias.
A evidência experimental sugere que, como Freud suspeitava, o raciocínio consciente é responsável por uma parte relativamente pequena da atividade em nossos cérebros, sendo que a maior parte da atividade acontece em lugares insondáveis. Entretanto, ao contrário do inconsciente freudiano (um lugar quente e claustrofóbico repleto de memórias reprimidas e fantasias sexuais inapropriadas a respeito das figuras paterna e materna), o inconsciente moderno é um lugar onde dados são processados ultra-rapidamente, onde mecanismos de sobrevivências úteis e regras empíricas a respeito do mundo foram lapidadas ao longo de milhões de anos de evolução.
É o inconsciente, por exemplo, que costura os dados de cor, forma, movimento e perspectiva para criar a visão experimentada pela parte consciente da mente. Experimentos com pessoas com certos tipos específicos de dano cerebral, que eliminam a habilidade de desempenhar algumas destas tarefas, podem revelar o que está acontecendo embaixo dos panos. Pessoas com “visão cega” podem responder a alguns estímulos visuais até mesmo quando não têm consciência de estar vendo. Em experimentos em que pessoas com esta condição caminham por corredores cheio de obstáculos, elas se esquivam e caminham até seu destino sem se machucar porque alguns dados residuais ainda chegam ao cérebro – ainda que em um nível que passa despercebido por suas mentes conscientes.
A visão moderna da mente inconsciente pode ser mais benigna que a de Freud, mas ainda assim pode gerar impulsos indesejáveis. Alguns psicólogos teorizam que a tendência do humano a categorizar quase cada pedaço de informação que cruza o seu caminho é um mecanismo de sobrevivência que evoluiu para permitir que certas decisões sejam tomadas rapidamente. Além disso, este mecanismo também pode estar por trás da tendência humana de agrupar pessoas em raças, gêneros, credos e similares, e depois aplicar certas características – sem fundamentação – para todas as pessoas de um certo grupo.
Os insights fornecidos pela ciência moderna a respeito do modo de funcionamento da mente humana são fascinantes em si, mas também sugerem que muito da sabedoria popular a respeito do comportamento humano talvez precise ser reconsiderado. Mlodinow observa que os modelos econômicos, por exemplo, “baseiam-se na presunção de que as pessoas tomam decisões… pesando conscientemente todos os fatores”, enquanto a pesquisa psicológica sugere que, na maior parte do tempo, elas não se comportam assim. Em vez disso, elas atuam com base em regras simples e inconscientes que pode às vezes geral resultados completamente irracionais