Iniciadas no longínquo ano de 1995, as obras de construção do Aeroporto Internacional de São Gonçalo do Amarante podem sofrer mais um atraso. Concebido num modelo inédito de concessão, onde uma empresa privada construirá e administrará os terminais de passageiros e de cargas, o aeroporto ainda não teve publicado o edital que permitirá a realização do leilão que irá definir a empresa vencedora. Desde dezembro de 2010, o documento está sob análise do Tribunal de Contas União (TCU), de onde deverá seguir para a Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero). Embora a expectativa fosse de que edital fosse publicado em abril, não há data para que o processo de licitação seja deflagrado pela estatal. Em fevereiro, o TCU havia prometido celeridade na análise, inclusive reduzindo o prazo dado aos técnicos de 60 para 15 dias - o que não se concretizou.
O modelo proposto para o Aeroporto de São Gonçalo será único no Brasil, que possuitodos os seus aeroportos administrados pela Infraero. Os acessos ao aeroporto, apesar de já estarem projetados e contratados, ainda não tiveram suas obras iniciadas, agregando mais um problema para a finalização do projeto, que está previsto para 2014, em virtude da realização da Copa do Mundo de Futebol.
Projetado como um aeroporto-cidade, a partir do conceito de "aeroportopolis", criado pelo americano John Kasarda, o terminal que será construído em São Gonçalo será uma enorme alavanca econômica para toda região, tanto no setor de turismo, como serviços e construção, pois prevê não só a construção do terminal de cargas e passageiros, mas sim toda uma infraestrutura que funciona como uma cidade voltada para as características regionais. Como ele, existem apenas outros seis aeroportos no mundo.
Na sua primeira etapa, prevista para ser inaugurada em meados de 2014, o aeroporto receberá toda a demanda de voos comerciais hoje recebidas pelo Aeroporto Internacional Augusto Severo. Segundo números da Infraero, o Augusto Severo recebe, aproximadamente, 2,5 milhões de passageiros por ano. Projeto para ser construído por etapas, o aeroporto deverá alcançar a expressiva marca de 40 milhões de passageiros/ano.
Entretanto esse número é questionado por quem conhece de perto os detalhes do aeroporto. "Primeiro que não há demanda suficiente para todos estes passageiros aqui no Rio Grande do Norte. E segundo, onde irá funcionar o terminal de cargas?", questiona o engenheiro Ibernon Martins Gomes. O engenheiro de 53 anos, dos quais 25 dedicados à Infraero, é quem está a frente das obras em São Gonçalo há mais de 10 anos, como gerente de empreendimentos do órgão federal no RN.
Para Ibernon, não se pode pensar no aeroporto como o maior da América Latina, pois ainda não há demanda suficiente de cargas ou passageiros, pois o maior aeroporto da América Latina em movimentação é o de Guarulhos-SP, que recebe mais de 23 milhões de passageiros por ano. "Certa vez falei que o aeroporto seria um dos sete do mundo com a concepção de 'aeroporto-cidade', como realmente será, e interpretaram que seria o 7º maior do mundo. Não há condições.", explicou o engenheiro.
Segundo ele, o cronograma de obras da Infraero - pista, pátios, drenagem e acessos internos - está dentro do esperado. A reportagem de O Poti/Diário de Natal esteve na pista do aeroporto, que tem 3 quilômetros de extensão e já está pronta, e constatou que o ritmo das obras é intenso. "A pista de pouso já está pronta. Só faltam agora, para finalizar a primeira etapa, concluir a drenagem e a pista de taxiamento, que serão finalizadas até, no máximo, em junho", afirmou Ibernon.
As obras da segunda etapa, que continuarão a serem executadas pelos mais de 300 homens do 1º Batalhão de Engenharia do Exército Brasileiro, sediado em Caicó, estão previstas para serem concluídas apenas em 2013. O projeto prevê que a Infraero terá de entregar daqui a dois anos o pátio das aeronaves e todo o sistema viário de acessos internos da área do aeroporto - que hoje é feito apenas de barro - com pistas asfaltadas e sinalizadas.
Os investimentos federais realizados somam, até agora, R$ 135 milhões e deverão alcançar a cifra de R$ 230 milhões, com aportes financeiros vindos do PAC. Com a concessão sendo fechada, os investimentos totais, somando setores públicos e privados deverá ultrapassar a marca de R$ 1 bilhão.