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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

‘A Privataria Tucana’: ficção ou não-ficção?

Você já deve ter ouvido falar dele. O livro “A Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., está causando grande controvérsia no meio político, na internet e na imprensa escrita do país.
Nas últimas semanas, a brochura de 344 páginas sobre supostas irregularidades, favorecimentos e desvios de dinheiro público no processo de privatizações levado a cabo no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) apimentou o maniqueísmo PT-PSDB, tanto entre os caciques quanto entre os militantes, passando pelos simpatizantes, o que significa que, a despeito do conteúdo do livro, petistas de carteirinha e tucanos de carteirinha estão alçando o “Privataria” à condição, respectivamente, de Bíblia Sagrada ou, simplesmente, “lixo” — palavra escolhida por José Serra.
Enquanto blogueiros associados ao PT, como Paulo Henrique Amorim e Luis Nassif, regozijam-se com a repercussão de “Privataria” e a disparada das vendas do livro, blogueiros e veículos de comunicação tidos como simpáticos ao PSDB desqualificam a obra. O blogueiro Augusto Nunes classificou-a como “empulhação”.
Boicote da Veja?
O jornalista Merval Pereira escreveu em sua coluna no jornal O Globo na semana passada que “o livro de Amaury Ribeiro Jr. está em sexto lugar na lista dos mais vendidos de não-ficção. Talvez tivesse mais sucesso ainda se estivesse na lista de ficção”.
Por falar em lista, a revista Veja está sendo acusada de boicotar ”A Privataria Tucana”. Apesar de na altura do último fim de semana a obra ter aparecido na segunda colocação entre os títulos de não-ficção mais vendidos nas livrarias Cultura e Saraiva e no ranking do site especializado em mercado editorial Publishnews, o livro de Amaury Ribeiro Jr. sequer apareceu na lista dos 20 mais vendidos da última edição da Veja.
Na última terça-feira, 27, mesmo dia em que “A Privataria Tucana” alcançou o topo da lista dos mais vendidos da Publishnews, a executiva nacional do PSDB anunciou a decisão de processar Amaury Ribeiro Jr.. Os tucanos dizem ter encontrado nada menos do que 100 erros ao longo das 345 páginas do livro, isso em uma “avaliação preliminar”.
Mercado editorial e jogo eleitoreiro
Os tucanos lembram que pesa sobre Amaury Ribeiro Jr. a suspeita de que ele montou um esquema de espionagem para a campanha de Dilma Rousseff e que o autor de “A Privataria Tucana” chegou a ser acusado pela Polícia Federal de ter violado o sigilo fiscal de dirigentes do PSDB e de familiares de José Serra.
A filha de Serra, Verônica, divulgou uma nota nesta semana rebatendo as acusações a ela e a seu pai feitas por Amaury: “Agora, uma organizada e fartamente financiada rede de difamação dedicou-se a propalar infâmias intensamente através de um livro e pela internet. Para atingir meu pai, buscam atacar a sua família com mentiras e torpezas.”
Ficção ou não-ficção, “A Privataria Tucana” se insere no fenômeno editorial da literatura política partidarizada, aquela que parece comprometida menos com o rigor dos fatos e com a honestidade intelectual e mais com a guerra de informações do jogo eleitoreiro.
Se os petistas ora celebram o sucesso de “Privataria”, eles já amargaram em um passado não muito distante o sucesso de “O País dos Petralhas”, best-seller do blogueiro anti-PT Reinaldo Azevedo — colunista da Veja que chamou o livro de Amaury de “panfleto sujo”.
É a miséria da literatura política brasileira, que em breve obrigará as livrarias a criar duas novas prateleiras, pelo menos: a dos livros da oposição e a das obras chapa-branca.