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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

OCDE adverte: ‘Gastar faz mal à saúde’

cordos são feitos para não serem cumpridos. Pelo menos esta foi a amarga impressão deixada por importantes fatos mundiais ocorridos nos últimos dias. O ministro do Meio Ambiente do Canadá, Peter Kent, por exemplo, decidiu que seu país abandona o Protocolo de Quioto – ou Kyoto, se o leitor preferir. Acordo, aliás, que sempre deixou a impressão de ser “café com leite”, uma vez que os maiores poluidores do planeta, a China e os Estados Unidos, nunca assinaram o compromisso para a redução da emissão dos gases que provocam o efeito estufa. E pensar que a iniciativa, assinada na cidade japonesa, foi gestada na canadense Toronto, em 88.
Integrante da União Europeia, mas não da zona do euro – uma vez que adota a libra como moeda oficial e circulante – o Reino Unido, representado por seu primeiro-ministro, David Cameron, ficou de fora do pacto fiscal para combater a crise econômica do bloco. Outros nove países europeus – Bulgária, Dinamarca, Hungria, Letônia, Lituânia, Polônia, Romênia, República Checa e Suécia – não adotaram o euro como moeda.
A decisão de Cameron pode causar o isolamento britânico mas, ao mesmo tempo, deu mais tempo para que alguns países consultassem seus respectivos parlamentos sobre o aumento da disciplina orçamentária na zona do euro, com sanções aos Estados que tiverem déficit acima de 3% do Produto Interno Bruto nacional. Assim como o dramaturgo inglês William Shakespeare, o primeiro-ministro britânico põe em xeque a questão do “ser ou não ser”.
David Cameron impediu a unanimidade. A “decisão difícil, mas positiva”, segundo ele, frustra o plano franco-alemão de impor um tratado mais rigoroso que impediria, por exemplo, a recente tragédia grega, na linha do “devo não nego pago quando puder” – ou pior – “devo não pago nego enquanto puder”. A alemã Angela Merkel e o francês Nicolas Sarkozy querem enfiar goela abaixo do restante do continente uma reforma fiscal que poderia prejudicar, principalmente, o sistema financeiro britânico. “Ora, não sabe brincar não desce pro play” diria Cameron se morasse num prédio de apartamentos — e não no número 10 da Downing Street.
Tudo rima com depressão
Cameron – que pediu garantias e contrapartidas – pode parecer isolado, mas não está sozinho. A agência de classificação de risco Moody’s não acredita que as promessas do pacotão fiscal “Merkozy” resolvam a crise da zona do euro e pode rever – para baixo – justamente os ratings de “triplo A” de Alemanha e França.
Vinte e sete países integram a União Europeia. Dezessete fazem parte da zona do euro. Outros, não europeus – como Cabo Verde – têm moeda indexada ao euro. Ora pois! E mais. Até o Vaticano — está na iminência de adesão. Ave Maria! Alternando ora um pires na mão, ora o cofre do porquinho, o FMI viaja o mundo e chega a Atenas com um programa de ajuda de 130 bilhões de euros.
A desaceleração vira retração e beira a depressão. E, só pra rimar, ano que vem tem eleição. Na França, Sarkozy enfrentará o socialista François Hollande. Mesmo sem o euro como moeda, Estados Unidos, Rússia, Egito e Venezuela testarão nas urnas o bom humor da população em momentos de crise no bolso – mesmo que em alguns destes países os eleitores não façam tanta diferença…
Em tempo: quem acreditar nas mensagens do governo brasileiro de que, mais uma vez, estamos preparados para a crise, um alerta: a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE) avisa que “Gastar faz mal à saúde”, e o Brasil está entre os países que mais se retraíram economicamente no último outubro; mais até mesmo que os europeus.