Anna Ruth Dantas - Repórter
Cotado para ser o líder da oposição na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, o deputado estadual Fernando Mineiro começa 2011 com dois focos. No plano estadual, já traz o tom do discurso de crítica ao Governo Rosalba Ciarlini. No cenário municipal, coloca-se como o provável candidato do PT a prefeito de Natal. Projeto para o qual, inclusive, ele já começou a avaliar.O parlamentar petista confirma que está fazendo uma análise da cidade e estuda para, caso o PT escolha o seu nome, estar preparado para o embate. “Tenho um conhecimento razoável da cidade, estou estudando muito Natal, tenho começado a conversar com especialistas de várias áreas. Esse é um ano que o PT terá para se reposicionar perante toda cidade e eu, pessoalmente, me atribuí um trabalho de entender mais a cidade, de estudar mais e me preparar para caso o partido venha me escolher honrar”, comenta. Já sobre o Governo Rosalba Ciarlini o deputado é ponderado e observa que, até o momento, a gestão não trouxe novidade, nem mesmo um programa de governo próprio. “Torço para que ela (a governadora) cumpra o que falou porque, caso contrário, quem sofre com desarranjo administrativo, com o não cumprimento das ações é a sociedade. O meu parâmetro será cobrar o que ela prometeu”, analisa. Fernando Mineiro passa a viver na Assembleia Legislativa um momento diferente, já que foi governista, pela primeira vez, na gestão passada. O fato de ter sido governo poderá dificultar o seu trabalho na oposição, já que os hoje governistas irão focar na administração que o senhor defendeu? “Não porque eu nunca tive uma relação maniqueísta com o governo. Todo mundo sabe que eu nunca defendi coisas porque eram demandas da administração”, responde, de pronto. Sobre as eleições 2012, o papel da oposição na Assembleia e a disputa de cargos envolvendo o PT, Fernando Mineiro concedeu a seguinte entrevista:
Que tipo de oposição fará Fernando Mineiro na Assembleia Legislativa, principalmente considerando que o senhor deverá ser o líder da oposição?
Uma oposição primeiro com qualificação, com embasamento político, técnico e que vai defender os interesses da sociedade do Rio Grande do Norte. Nesse primeiro momento eu tenho dito que nós deveremos nos pautar analisando o que foi que a governadora disse, o discurso que fez e o que está realizando. Eu vou me pautar por isso, as promessas e compromissos assumidos e as realizações. Será uma oposição tendo como norte os interesses da sociedade do Rio Grande do Norte.
O senhor chega para oposição depois de ter sido governo, inclusive pela primeira vez na Casa foi governista. O fato de ter sido governo poderá dificultar o seu trabalho na oposição, já que os hoje governistas irão focar na administração que o senhor defendeu?
Não porque eu nunca tive uma relação maniqueísta com o governo. Todo mundo sabe que eu nunca defendi coisas porque eram demandas da administração. Sempre defendi aquilo que eu concordava, que eu achava correto. Eu terei o mesmo procedimento. Não tem nenhuma mudança de posição em relação ao olhar que eu tenho sobre a administração. Fiz as defesas que fiz das ações do governo Iberê e faria em qualquer outra situação. Eu vou ter coerência em relação aquilo. Não tem nada que eu tenha defendido ou tenha sido contrário no governo passado e agora por estar na oposição eu vou ter posição diferente. Tenho uma conduta que é baseada naquilo que eu acredito e que é correto nos interesses da sociedade.
A governadora Rosalba rompeu os 45 dias de gestão. O senhor já tem uma opinião sobre essa primeira etapa da administração Rosalba?
Acho que qualquer opinião seria precipitação. Já se convencionou no Brasil, copiando os Estados Unidos, esperar os 100 primeiros dias. Agora o que me chama atenção nesses 45 dias de governo, mais 87 dias, se você pegar 3 de outubro, de vitória, o que me chama a atenção é que não tem um projeto, uma definição além das generalidades. Acho que a campanha foi marcada por muita generalidade e me parece que a leitura da mensagem dela (da governadora Rosalba Ciarlini), quando tinha a expectativa que se apresentasse coisas mais concretas sobre suas ações, também foi marcada por muita generalidade ou, quando muito, a citação de obras do governo passado, que ela herdou. As principais obras e ações relacionadas na mensagem são heranças do governo passado. Então, isso chama atenção. Mas não tenho uma avaliação mais definitiva. Torço para que ela cumpra o que falou porque, caso contrário, quem sofre com desarranjo administrativo, com o não cumprimento das ações é a sociedade. O meu parâmetro será cobrar o que ela prometeu. Estamos levantando, inclusive, as promessas e compromissos até para se alguém do governo não lembrar a gente está lembrando.
O discurso da governadora tem sido muito focado na situação financeira do Estado. O senhor concorda com esses números que ela tem mostrado?
Desde que essa situação da dívida do Estado foi tornada público você vai analisar e tem números para todos os gostos, mais variados números e valores. Agora, durante a mensagem (na Assembleia) foi que ela quantificou. Oficialmente informou à sociedade que a dívida de curto prazo é de R$ 810 milhões. Apresentei um requerimento solicitando detalhamento dessa dívida. É preciso que a gente saiba o detalhe de cada uma dessa dívida, a origem das despesas,data para eu poder fazer avaliação. De qualquer forma foi um número oficial e acaba com o achismo porque foi isso que marcou. Me parece que a ênfase na questão do endividamento do Estado tem outro objetivo que é se precaver das cobranças e das demandas. Uma espécie de carta de seguro para qualquer demanda que chegar avisar que está em dívida. De qualquer forma esse tipo de discurso tem um prazo de validade. Depois dos 100 dias ela não vai poder ficar colocando a culpa para trás, olhando só para o retrovisor. Eu digo que é preciso olhar para o retrovisor para não perder a referência, mas é preciso olhar para o pára-brisa, ele é maior que o retrovisor. Significa dizer que a tarefa dela, ela não foi eleita para olhar no retrovisor, mas para fazer a estrada que tem pela frente. Essa questão da dívida eu trato essa maneira. Entrei com requerimento, estou aguardando o envio das informações e vamos analisar. De resto, se você analisar o Brasil como um todo é o discurso, por exemplo o Governo do Estado de São Paulo, administrado pelo PSDB, que elegeu seu sucessor também fala em administrar as contas, dificuldades financeiras, Minas Gerais a mesma coisa. Estou apenas dando bons exemplos dos Estados considerados maiores. A situação financeira pública brasileira tem estado no fio da navalha, o que eu não acho correto é responsabilizar o servidor público. Ele (o servidor público) pagar essa conta, ser responsabilizado. Não acho correto essa política.
Essa questão da política contra o servidor o senhor se refere a quem? Aos servidores do Itep? Do Meios?
A todos. A pergunta é: será que esse discurso das dificuldades não é carta de seguro para não cumprir as próximas etapas do plano de cargos. Porque nós temos uma série de etapas que estão vencendo a partir de março, em várias categorias que foram negociadas e aprovadas a unanimidade dessa Casa, por todos os deputados. Não é só Itep. O conjunto das categorias tem uma série e acordos celebrados não com o Governo A ou C, mas com o Estado do Rio Grande do Norte. Além do mais, esse discurso de responsabilizar o gestor que ficou, que entregou o cargo, é o mesmo padrão. Quando Garibaldi substituiu José Agripino teve o mesmo discurso. Quando Wilma substituiu Garibaldi teve o mesmo discurso. É um certo padrão para dizer que o outro entregou com muita dificuldade.
‘PT terá candidato próprio a prefeito’
Na Assembleia Legislativa a governadora não tem hoje maioria, mas alguns deputados já traçam o caminho para ingressar na ala governista. O senhor teme ser uma voz solitária ou quase solitária no plenário?
Primeiro que não faço política com temor. Faço política defendendo o que acredito, mesmo que a posição que eu venha adotar esteja em minoria na Assembléia isso é secundário. O que importa, o que me orienta é se essa posição que eu venha a assumir tem ressonância na sociedade e representa os setores sociais. Se vai ter apoio dos meus colegas é secundário para eu deixar ou não de assumir. Penso que essa questão de ter maioria não interfere.
O PT irá compor algum bloco partidário?
Estamos conversando com outros partidos. Estamos discutindo com a bancada de oposição. Não é algo automático, maniqueísta de que se você perdeu então venha. Tenho defendido que a gente precisa estabelecer uma metodologia de discussão, de assumir posição. Se você representa um bloco é importante que tenha respaldo dos seus pares.
Seu nome vem sendo citado como provável candidato a prefeito de Natal. O senhor trabalha com essa possibilidade?
Eu tenho o meu nome à disposição do partido. Mas não tenho nenhuma obsessão em relação a isso. Não tem nenhuma vontade de passar por cima de tudo. Eu penso que Natal precisa fazer um debate sobre que é preciso resgatar algo que considero fundamental que é o que essa administração jogou na lata do lixo, que a credibilidade da administração pública, você mostrar à sociedade que as coisas podem ser resolvidas, que as coisas têm jeito. É generalizado o sentimento na cidade como um todo, nas quatro regiões da cidade, de que Natal vive um caos administrativo por um forte grau de incompetência, por falta de projeto, de iniciativa, falta de criatividade, falta de coordenação, falta de uma equipe. A primeira questão que acho que deve ser enfrentada é se dirigir a cidade como portador de um projeto para cidade. Eu me sinto motivado para fazer um debate primeiro internamente no PT sobre esse assunto e segundo com os setores da sociedade.
A deputada federal Fátima Bezerra já disse que não é candidata a prefeita de Natal. Com isso o senhor seria o candidato natural a prefeito?
Não existe candidato natural nem no PT e nem em nenhum partido. Nós do PT precisamos nos reposicionar na cidade, o PT precisa buscar um reposicionamento na sociedade, fazer um debate para sociedade, discutir com os setores, quer sejam empresariais, da mulher, regiões periférrias, fazer um debate sobre a cidade. Me preocupa fazer um debate sobre política, sobre eleição pautado em coisas muito concretas, quer sejam políticas urbanas tradicionais como saúde, segurança, educação, quer sejam em temas sobre mobilidade urbana, sobre geração. Eu estou muito motivado. Tenho um conhecimento razoável da cidade, estou estudando muito Natal, tenho começado a conversar com especialista de várias áreas. Esse é um ano em que o PT terá para se reposicionar perante toda cidade e eu, pessoalmente, me atribuí um trabalho de entender mais a cidade, de estudar mais e me preparar para caso o partido venha me escolher.
Ou seja, o senhor já se prepara para ser candidato a prefeito?
Estou me preparando e estar preparado significa estudar a cidade, conhecer a cidade, analisar os problemas e dizer bem concretamente como é possível resolver questões como a mobilidade urbana que está um caos. Está um caos por falta de projeto, de criatividade, de coordenação.
O PT então deverá ter candidato próprio?
Com certeza. Acho que o PT precisa ter candidato próprio, fazer o debate. Mais do que ter candidato próprio, candidatura própria que dialogue com o conjunto da cidade.
Falando do governo federal, as discussões dos cargos federais nos Estados já começaram. Qual sua proposta para escolha desses cargos?
O PT tem uma comissão formada pelo nosso presidente, Eraldo, pelo nosso secretário Hugo Manso, pelo vice-presidente Júnior Souto, por Rildo, que é o secretário de organização, por mim e pela Fátima (deputada federal Fátima Bezerra). Vamos discutir e acompanhar a definição, escolha sobre isso. A definição não é do PT e de nenhum partido. A definição é do ministro da área e da presidente.
O senhor defende o critério que o ministro da área deve indicar os cargos do partido a que pertence?
Defendo o critério que deve indicar pessoas que tenham afinidade com as áreas, independente de serem filiadas ou não, que dêem conta da política nacional implantada atualmente. Defendo esse critério. Acho estranho esse negócio de ser porteira fechada. Acho isso errado, equivocado. O PT tem alguns cargos indicados pelo Partido dos Trabalhadores. Vamos fazer alguns debates com os tensionamentos normais, naturais.
O senhor quer ampliação dos espaços para o PT?
Óbvio. O PT defende ampliação, o PMDB defende, todos partidos defendem. Como o espaço é o mesmo, tem chamar Eistein. É limitado, não tem como mudar o espaço.
2012 para o PT do Rio Grande do Norte se desenha como?
Cada caso será um caso porque a eleição é municipal. Onde for possível lançar candidatura própria é importante, buscar alianças que reforcem as demandas da sociedade com o PT. Acho que o marco do partido é 2012. defendo que o PT tenha avanços no processo. A partir de 2011 o PT entra numa nova fase. 2010 encerrou o ciclo da história do PT, que foi de 30 anos. Fizemos grandes transformações, elegemos o presidente e se encerra um ciclo. Estou motivado com a idéia de que precisamos renovar o partido, ter novas referências. Fico satisfeito de ter sido reeleito, a Fatima reeleita, mas é legal ter outros quadros, outros nomes.