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domingo, 23 de janeiro de 2011

Os trapalhões do Enem

joão faustino - Professor da UFRN


Temos que acreditar que o Exame Nacional do Ensino Médio apresenta um grande avanço na democratização do processo de ingresso da nossa juventude no ensino superior. Desejava-se que, gradativamente, esse mecanismo de seleção fosse sendo aperfeiçoado, ao ponto de ocupar o espaço do velho e superado vestibular.
Todavia, uma inovação implantada com os melhores propósitos de aferir conhecimentos, passou a se constituir num verdadeiro pesadelo para a juventude brasileira, especialmente no momento do difícil ingresso numa universidade pública.
A iniciativa, aplaudida por muitos, esbarrou no despreparo, na falta de planejamento, na ausência de uma estrutura minimamente organizada.
Num primeiro momento, o ENEM se deparou com a quebra do sigilo das provas, produzidas por uma empresa sem a devida qualificação para tão relevante tarefa. Era a fraude institucionalizada. Depois, alunos foram surpreendidos com a publicidade de dados pessoais que deveriam se revestir de absoluto sigilo. Mais recentemente, os cabeçalhos das provas foram alterados gerando uma verdadeira confusão na vida de milhares de jovens. Enfim, os desacertos do ENEM somam a quebra do sigilo de provas e de dados pessoais dos candidatos, questões anuladas, gabaritos errados, desorganização, descrédito e, sobretudo desconfiança num sistema de seleção que teria tudo para dar certo.
No ano passado, ainda no campo das boas intenções, o governo criou, tendo como referência as notas do exame, o Sistema de Seleção Unificada – SISU – centralizando assim a oferta de vagas de universidades cadastradas, iniciativa que poderia se caracterizar como um avanço, não fosse também apresentar problemas já na sua implantação. O MEC sabia que 3 milhões de alunos estariam aptos a disputar as 83.125 vagas disponíveis. Entretanto os organizadores, mais uma vez, se complicaram e novas trapalhadas surgiram para comprometer, mais ainda, a imagem de um programa inovador e necessário. O Ministério subestimou a demanda, preparou-se para uma média de até 400 acessos por minuto e eles superaram a casa de 600, ou seja, 50% a mais do previsto. Essa imprevisibilidade é inaceitável, principalmente numa estrutura que não pode falsear com a credibilidade. O MEC não tem o que explicar, tem sim que confessar sua negligência, para não se falar em incompetência. Afinal não faz muito tempo que o nosso país, mais uma vez, deu demonstração de eficiência quando acolheu, registrou e proclamou num mesmo dia o resultado de uma eleição onde mais de 130 milhões participaram. Isto para não se falar que a Receita Federal, num mesmo dia, recebeu e processou 24 milhões de declarações de imposto de renda. Os trapalhões do ENEM comprometem a credibilidade do governo e depõem contra a eficiência do Estado.